sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação

Livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação de algumas ideias. A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.
Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação.
Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte importante.
Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?
As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros atores e linguagens que as esquerdas não puderam entender.
Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias:
Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.

Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.
Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas).
Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não  capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente.
Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento econômico não é infinito.

Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da humanidade (como a água e o ar).
Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.
Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.
Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.
Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.

Por Boaventura de Sousa Santos

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

De céticos a cínicos

O ceticismo parece um bom refúgio em tempos em que já se decretou o fim das utopias, o fim do socialismo, até mesmo o fim da história. É mais cômodo dizer que não se acredita em nada, que tudo é igual, que nada vale a pena. O socialismo teria dado em tiranias, a política em corrupção, os ideais em interesses. A natureza humana seria essencialmente ruim: egoísta, violenta, propensa à corrupção.

Nesse cenário, só restaria não acreditar em nada, para o que é indispensável desqualificar tudo, aderir ao cambalache: nada é melhor, tudo é igual. Exercer o ceticismo significa tratar de afirmar que nenhuma alternativa é possível, nenhuma tem credibilidade. Umas são péssimas, outras impossíveis. Alguns órgãos, como já foi dito, são máquinas de destruir reputações. Porque se alguém é respeitável, se alguma alternativa demonstra que pode conquistar apoios e protagonizar processos de melhoria efetiva da realidade, o ceticismo não se justificaria.

Na realidade o ceticismo se revela, rapidamente, na realidade, ser um cinismo, em que tanto faz como tanto fez, uma justificativa para a inércia, para deixar que tudo continue como está. Ainda mais que o ceticismo-cinismo está a serviço dos poderes dominantes, que costumam empregar esses otavinhos, dando-lhes espaço e emprego.

Seu discurso é que o mundo está cada vez pior , à beira da catástrofe ecológica, tudo desmorona e outros cataclismos. Concitam a essa visão pessimista, ao ceticismo e a somar-se à inercia, que permite que os poderosos sigam dominando, os exploradores sigam explorando, os enganadores – como eles – sigam enganando.

Por mais que digam que tudo está pior, que o século passado foi um horror – como se o mundo estivesse melhor no século XIX -, que nada vale a pena, não podem analisar a realidade em concreto. Para não ir mais longe, basta tomar a América Latina – tema sobre o qual a ignorância dessa gente é especialmente acentuada. Impossível não considerar que o século XX foi o mais importante da sua história, o primeira em que a região começou a ser protagonista da sua historia. De economias agro exportadoras, se avançou para economias industrializadas em vários países, para a urbanização , para a construção de sistemas públicos de educação e de saúde, para o desenvolvimento do movimento operário e dos direitos dos trabalhadores.

Mas bastaria concentrar-nos no período recente, no mundo atual, para nos darmos conta de que as sociedades latino-americanas – o continente mais desigual do mundo – ou pelo menos a maioria delas, avançaram muito na superação das desigualdades e da miséria. Ainda mais em contraste com os países do centro do capitalismo, referência central para os cético-cínicos, que giram em falso em torno de políticas que a América Latina já superou.

As populações da Venezuela, da Bolívia, do Equador, estão vivendo muito melhor do que antes dos governos de Hugo Chavez, de Evo Morales e de Rafael Correa. A Argentina dos Kirdhcner esta’ muito melhor do que com Menem. O Brasil de Lula e de Dilma esta’ muito melhor do que com FHC.

Mas o ceticismo-cinismo desconhece a realidade concreta, não conhece a história. É pura ideologia, estado de ânimo, que dá cobertura aos poderosos, lado que escolheram, ao optar por deixar o mundo como ele está. Trata de passar sentimentos de angustia diante dos problemas do mundo, mas é apenas uma isca para fazer passar melhor seu compromisso com que o mundo não mude, continue igual. Até porque a vida está bem boa para eles que comem da mão dos ricos e poderosos.

Ser otimista não é desconsiderar os graves problemas de toda ordem que o mundo vive, não porque a natureza humana seja ruim por essência, mas porque vivemos em um sistema centrado no lucro e não nas necessidades humanas – o capitalismo, na sua era neoliberal. Desconhecer as raízes históricas dos problemas, não compreender que é um sistema construído historicamente e que, portanto, pode ser desconstruído, que teve começo, tem meio e pode ter fim. Que a história humana é sempre um processo aberto de alternativas e que triunfam as alternativas que conseguem superar esse ceticismo-cinismo que joga água no moinho de deixar tudo como está, pela ação consciente, organizada, solidária dos homens e mulheres concretamente existentes.

Fonte: 
Um Brasil para todos e todas.
 FALARCOMGIMENES 

Proibição do uso de celulares não deve diminuir crimes


Lei sancionada impede uso de celulares (fazer ou receber chamadas) nas agências e caixas eletrônicos

A proibição do uso de celulares no interior de agências bancárias ou em caixas eletrônicos não deve impedir a incidência de assaltos aos estabelecimentos ou correntistas. Profissionais da área apontam a medida como insuficiente para evitar registros das ocorrências, chamadas de "saidinhas". Já correntistas e usuários das agências veem a proibição como medida de segurança.

Sancionada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, uma nova lei, em vigor desde o último sábado (27), impede o uso dos celulares em bancos daquela município. Ainda que porte o aparelho, o usuário não deve receber nem fazer ligações. Também é proibido o envio de mensagens de voz e de texto. O objetivo da lei é diminuir a ocorrência de assaltos a clientes na saída das agências bancárias e, por enquanto, não tem caráter punitivo.

De acordo com o Diário Oficial, as instituições bancárias terão um tempo, ainda não definido, para se adaptar às novas regras.  A lei prevê multa de R$ 2,5 mil quando houver infração. O valor dobra em casos de reincidência. Para o presidente do Sindicato dos Bancários de Jundiaí e Região, Paulo Santos Mendonça, o decreto em vigor na capital paulistana não deve incentivar outros municípios a adotarem semelhante recurso.

Segundo ele, a medida é interessante, mas não é a única forma de evitar assaltos. "Outros mecanismos, hoje, adotados pelos bancos, são mais eficazes como o monitoramento feito por câmeras, a instalação de biombos de vidro e a presença de
vigilantes." Mendonça avalia o celular como um instrumento de trabalho para muitos clientes e acredita que o decreto não apresenta um sistema de fiscalização condizente com as necessidades das novas regras.

"Muitos bancos não implementam as exigências e não se sabe se há condições adequadas para verificar essa adesão." O presidente do Sindicato reconhece ainda a incidência das "saidinhas" na Região. Contudo, Mendonça ressalta que bancos se adequaram às medidas de segurança exigidas pela lei estadual 14.364, sancionada pelo governador Geraldo Alckmin em março deste ano - que obriga agências bancárias a terem biombos ou divisórias individuais opacas entre os caixas. Segundo o profissional, cerca de 50% das agências de Jundiaí e Região seguem o decreto.
Ajuda mas não resolve - Em nota, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que a medida contra o uso de celulares contribui para a segurança mas não resolve o problema, já que as "saidinhas" ocorrem em vias públicas, algumas vezes em locais distantes das agências bancárias. Segundo a entidade, a ação conjunta entre bancos e órgãos de segurança pública estaduais e municipais é fundamental.

Em relação ao número de assaltos realizados no interior de agências bancárias, a Febraban registrou uma queda de 82% entre os anos de 2000 e 2010. Em comparação ao primeiro semestre de 2010, com 206 assaltos a banco registrados no Brasil, também houve uma queda considerável em 2011, com 192 assaltos registrados no mesmo período.

Além de São Paulo, leis que proibem o uso de celulares em bancos e caixas eletrônicos existem em 22 cidades do estado paulista. Na Região, os municípios de Campinas, Louveira, Atibaia e Indaiatuba integram este grupo.
Publicação: 31/08/2011

Marcha estudantil em Brasília vai pressionar governo e Congresso

União Nacional dos Estudantes (UNE) pretende levar 20 mil manifestantes à capital federal na quarta-feira (31) para reinvindicar que investimento em educação seja de 10% do PIB e de metade das riquezas do pré-sal. Ameaçada de morte, líder estudantil chilena Camila Vallejo participa do ato e de audiência pública no Congresso.

CUT faz protesto em frente ao BC, em São Paulo, pela queda da taxa de juros e contra o aumento do superávit primário

Manifestação acontece a partir do meio-dia na avenida Paulista


Nesta terça-feira (30), às 12h00, a militância da CUT faz um ato em frente ao edifício do Banco Central, em São Paulo (Av. Paulista, 1804), para reivindicar a redução das taxas de juros e ampliação dos investimentos em políticas públicas e programas sociais.